Me perdi no Atacama — de bike, sem GPS, com um mapa desenhado à mão
San Pedro de Atacama, Chile – 2007

Em 2007, com 21 anos, aluguei uma bicicleta em San Pedro com um mapa desenhado à mão por um senhor local. Meus amigos descansaram nas termas. Eu fui atrás de sal, silêncio e talvez alguma resposta sem nome. O plano era simples: chegar às Lagunas Cejar e, se desse, até a reserva de flamingos em Tebenquiche.
Fiz uma chamada de vídeo com minha mãe e meu irmão, tomei água, e parti sozinho às 8h da manhã.

No caminho, encontrei um grupo de ciclistas. Segui com eles até Cejar. Eles me explicaram mais ou menos como seguir pra Tebenquiche. E eu fui.

Cheguei lá. Sozinho, cercado por sal, flamingos e horizonte. Mas na volta... eu me perdi.
Não havia sinal. O mapa parecia outro. O vento contra me desmontava. O sol queimava. Comecei a gritar comigo mesmo. Xingamentos, críticas, medo real. Vi miragens. Me senti engolido pelo branco.

Encontrei marcas de patas e pneus. Segui elas com toda minha fé de que não terminariam em carcaças. Elas me levaram a uma estrada. Não era a mesma, mas era uma estrada.
Consegui carona com um comerciante de corujas. Cheguei de volta às 22h30, em choque e com fome.

Voltei outro. Não sei explicar como, mas voltei mais inteiro.
O Atacama me desmontou pra me remontar.
Me perdi pra me encontrar de outro jeito.
📍 Local: Lagunas Cejar e Tebenquiche, Deserto do Atacama
📸 Texto e imagens: Gnome Steps – Felipe, 21 anos e duas garrafas d’água